NOSSA HISTÓRIA
Hotel Pequena Suécia é um dos mais tradicionais da colônia finlandesa de Penedo. Tem a vocação da cultura e do naturalismo desde sua fundação, nos anos 50, por duas finlandesas intelectuais e amantes da natureza. Chamava-se então Chácara das Duas e acolhia nos fins de semana pessoas interessadas em massagens, literatura, passeios ao ar livre e nos produtos saudáveis que as “Duas” cultivavam em sua horta. Na década de 60 foi comprado por uma família sueca que já o frequentava e que dirige até hoje com a mesma tônica: boa música nas noites dos fins de semana, bons livros na biblioteca, passeios por trilhas a até um SPA – próprio para quem quer meditar um pouco mais longe do movimento. Lembremos algumas passagens dessa história:


O CANTINHO DE HELMI E VIVI
Corriam os primeiros anos da década de 50 do século passado. Como um rio que vai achando seu melhor caminho nas circunstâncias que se apresentam, a colônia finlandesa de Penedo enveredava pelo turismo. O radicalismo naturalista de Toivo Uuskallio, carismático e místico líder da colônia, cedia ao realismo, e as casas das famílias finlandesas iam se transformando em pensões, com o charme das saunas e das tradições artesanais de um povo de clima frio. A via Dutra, recém-construída, impulsionava a nova atividade. Mas, Penedo era ainda um bucólico povoado. Vinha-se por estrada de terra desde a Dutra de pista única. Nada de energia elétrica, nehuma placa na estrada, pouquíssimo movimento, muita paz.
Quem chegava de carro à noite precisava de paciência para esperar que as vacas de um curral próximo ao atual Largo Finlândia fossem se levantando, uma a uma, do meio da estrada.Os mais “antenados” de Resende já sabiam que o baile típico dos sábados à noite era animado, e que ali se podia conhecer, além de finlandesas bonitas, gente nova do Rio e de São Paulo.
As mães de família mais tradicionais de Resende temiam que as filhas viessem a Penedo porque comentava-se que aqui os finlandeses, homens e mulheres, tomavam sauna nus, todos juntos. Eram esses o tempo e o cenário em que duas finlandesas – Helmi Lindell e Vivi Ramstadf – fundaram o Chácara das Duas, o primeiro hotel de Penedo. Antes, os hóspedes eram recebidos nas próprias casas dos finlandeses. O Chácara foi o primeiro a ter uma ala de apartamentos independentes, com banheiros próprios, o que já lhe dava a característica de hotel. Elas eram vegetarianas, também chegaram ao Brasil em 1930, com os primeiros colonos de Penedo, mas não tinham nada a ver com o grupo de Uuskallio. Moravam am Copacabana, no Rio, e ganhavam a vida como massagistas. Na época não havia ainda a fisioterapia, e a técnica finlandesa da massagem que elas faziam era ideal para crianças com paralisia infantil e pessoas com sequelas de derrames.
Disciplinadas, sérias e cultas, Helmi e Vivi constituíram uma clientela de respeito na elite do Rio de Janeiro, principalmente junto a colônia escandinava, que era grande na época, com muitas empresas suecas estabelecidas na cidade.
Embora finlandesas, elas tinham origem sueca e falavam sueco em casa. No começo dos anos 50 vieram conhecer seus conterrâneos de Penedo e se encantaram com o local. Compraram um bom terreno e construíram uma casa de fim de semana, para onde convidavam alguns amigos e clientes do Rio. Os amigos gostavam tanto que uma noite convenceram-nas a transformar a casa num hotel para que pudessem vir mais frequentemente sem constrangimento. A casa original, então, transformou-se então num corredor de apartamentos que ainda existe hoje, à direita de quem entra no Hotel Pequena Suécia. E a casa sede do hotel, construída na ocasião, continua intacta, modificada apenas por uma nova varanda lateral e um ou outro detalhe. A inauguração foi em 1955; a palavra “chácara” era bem apropriada porque, além de receber hóspedes, elas cultivavam ali legumes, verduras e frutas cujo excedente levavam para o Rio, para consumo próprio durante a semana. E o hotel foi ficando famoso pela boa comida, pelo asseio, pelos hábitos saudáveis, pela educação e cultura das “Duas”.
Helmi era a mais intelectual. Lia muito, era criativa e foi a pioneira na fabricação caseira do molho chutney, aproveitando a enorme quantidade de mangas que se pegava nas árvores e pelo chão. Nesse tempo, antes dos postes de energia, a Av. das Mangueiras tinha mangueiras dos dois lados, como um túnel verde e rosa. Na época da fruta era uma fartura. Helmi deve ter tirado a receita de uma das muitas publicações internacionais que lia. Vivi era mais disposta a pegar pesado, gostava de exercícios fpisicos e de caminhadas. Havia sido bandeirante quando mais jovem. A química entre as duas personalidades criava um clima de grande harmonia e apuro espiritual. Quem as conheceu afirma que eram encantadoras, fazendo sempre tudo com grande correção e capricho.
O SUECO CARISMÁTICO
Nesse tempo havia no Rio de Janeiro, um sueco de uma simpatia contagiante e grande poder de liderança. Era Gunnar Göransson, diretor da multinacional Facit ( máquinas para escritório ) e também diretor de futebol do Flamengo – para se ter uma idéia da integração que ele já tinha com o Brasil. O futebol era uma de suas paixões e ele produziu o que talvez tenha sido o melhor programa esportivo da televisão brasileira em todos os tempos: a “Grande Resenha Esportiva Facit”, uma mesa de debates que contava com Nélson Rodrigues, Armando Nogueira e João Saldanha, entre outros. Pois este sueco veio se hospedar na Chácara com sua esposa Barbro e ambos ficaram encantados. Abandonaram uma casinha que tinham numa praia e adotaram Penedo para os fins de semana. Trataram logo de comprar um terreno bem próximo à Chácara e construíram sua casa.


Eles traziam para o hotel de Helmi e Vivi inumeros diretores de outras empresas que mantinham negócios com a Facit, alguns dos quais foram se estabelecendo aqui , como, por exemplo, o então consul honorário da Finlândia, Birger Jarner. O português José Costa, dono do tradicional Restaurante Pizzaria do Costa, também chegou a Penedo através de Gunnar e Barbro. Foi um tempo em que Penedo teve um grande impulso no turismo Em meados dos anos 60 morreu Helmi, e Vivi quis vender o hotel. Gunnar Göransson arranjou um comprador, um de seus conterrâneos suecos. Na hora H, porém, o pretenso comprador voltou atrás, e Gunnar acabou comprando ele mesmo a Chácara, pois dona Barbro e ele sentiam-se um pouco responsáveis pelo negócio e não queriam frustrar a amiga Vivi. Barbro alegava ainda que sendo donos do hotel poderiam preservar o sossego nos arredores de sua casa. Mas Gunnar não tinha tempo para ser hoteleiro e deu carta branca a um amigo alemão, Walter, para gerenciar o negócio. Foram cerca de 15 anos em que a Chácara firmou o conceito de excelência: limpeza, capricho, comida cuja fama corria pelo eixo Rio-São Paulo. O sino que chamava para as refeições tocava exatamente na hora, como um trem suíço. Sistemático, Walter mantinha tudo sempre em ordem. Procurava a “maior qualidade possível”, meta que o hotel mantém até hoje.

Seu caminho parecia outro que não o comércio. Mas era preciso preservar o patrimônio. O arrendatário nunca tem o mesmo carinho do dono. Uma noite Marie resolveu jogar o I Ching, se perguntando sobre sua vida em relação ao hotel. O hexagrama que saiu tinha por título “Trabalhe no que foi deteriorado”… Mas ela não sentia ter a vocação para as relações públicas, e achava que isso era necessário à frente de um hotel. Foi quando sua mãe, Barbro, mais uma vez deu o voto decisivo: se comprometeu a assumir esta parte do trabalho, onde sempre foi perfeita. Acostumada a receber em festas, anfitriã de tanta gente importante ligada ao mundo dos negócios, ela era chamada por muitos de “Lady Barbro”, pela fineza, educação e simpatia com que tratava a todos. E foi assim no hotel, formando uma dupla eficiente com Marie Louise, esta desenvolvendo seu lado empresarial. E botaram mãos à obra.
Conseguiram reaver o hotel, mas perderam o nome Chácara das Duas e o telefone já tradicional. Foi quando surgiu o nome Pequena Suécia. “Hoje eu vejo que há momentos na vida em que é preciso se desapegar de alguma coisa que está sendo objeto de atrito; e a gente pode se desapegar sem medo porque outras coisas novas surgem no vazio que fica” – comenta Marie hoje.
Marie tinha pouco dinheiro para investir e muita coisa para consertar. O restaurante estava impraticável, a sauna também. Convocou os amigos e pintou o hotel em mutirão. Usou o pouco dinheiro que havia para reformar a sauna, e começou a funcionar usando a Casa de Chá ( atual Espaço Japa ) como restaurante. Cozinhava na casa de sua mãe, em frente à Casa de Chá – na entrada do hotel, atravessava a rua com as bandejas ela mesma – assim como ela mesma arrumava as camas e os quartos dos hóspedes. Tinha apenas um jardineiro – Eduardo – e a empregada de dona Barbro, Neusa, como funcionários. O I Ching poderia ter dito também “Você é uma empresária nata”. Teria acertado em cheio, porque o Pequena Suécia floresceu. Marie diminuiu o número de apartamentos, ampliou-os e melhorou sua qualidade. Caracterizou o hotel como sueco – na decoração, nas cores, nos uniformes dos funcionários. Instituiu festas suecas, como a de Santa Luzia, quando uma linda procissão percorre as ruas de Penedo, com todos os participantes carregando velas e cantando em louvor à santa protetora dos olhos; ou a do Midsömmar, que comemora o sol que brilha por quase toda a Suécia na ocasião.
Assim que pode, fez uma grande obra de saneamento no hotel. Criou ainda, na década de 90, as noites musicais na Casa de Chá, onde confraternizava com os hóspedes e amigos. Estes encontros musicais passaram a acontecer no novo restaurante e bar, inaugurado em 2000, e deram origem ao Jazz Village em 2007. Ali se apresentam músicos da região e de grandes centros, como a harpista Cristina Braga e o guitarrista americano Stanley Jordan, entre outros.
MARIE JOGA O I CHING
A filosofia, em especial a oriental, era o grande interesse da jovem Marie Louise, filha caçula de Gunnar e Barbro Göransson. Marie cresceu curtindo as cachoeiras de Penedo e mais tarde estudou filosofia nos Estados Unidos. Durante o tempo em que esteve fora do Brasil o já famoso “Seu Walter” cansou e resolveu aposentar-se. Gunnar já havia falecido, e dona Barbro arrendou o hotel. Corria o ano de 1982. Em 1986, Marie voltou para o Brasil, com 26 anos de idade. O hotel, arrendado, não ia bem. Era preciso encontrar uma solução. Os filhos mais velhos de Gunnar e Barbro, Hans e Christina, já casados e com suas vidas encaminhadas em outros locais, não se interessavam por assumir a administração. Marie, por sua vez, dava aulas de filosofia na faculdade Dom Bosco, em Resende, e para grupos particulares.
